sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Encrencas da Vida: Zesty de Limão Siciliano no Limoncello e Prosecco








E, finalmente, a sexta-feira chegou quase se arrastandooooooooooo.......................................... A minha quase não chegaaaaa....................................................................... 
Chega, sábado, mas não chega a sexta-feira. Tudo bem. Tenho horror do trânsito de sexta mesmo!
 Mas, se você pegou o trânsito e esta super atacado, estressado, enfadado, então, fique frio, como eu, e desfrute o drink neste adentrar de noite que apesar de cinza está bem promissora. Este drink é multifacetado. Esfria a cabeça e serve pro esquenta também! Adoro esquenta. 
Este blog é um esquenta.
A vida deveria ser feita de esquentas. A gente ia aproveitar horrores!

Cena do filme 'Sob o Sol da Toscana' Locação: Positano

E o drink eleito foi inspirado num filme que eu só consegui ver recentemente, mas que não é nenhum laçamento. "Sob o sol da Toscana" é o nome. Não é nenhum cult movie, não. Filme simples, mas cheio de mensagens e paisagens bonitas. E as vezes, ou melhor, muitas vezes, a grande maioria das vezes, para ser mais precisa, necessitamos assistir coisas simples que nos relaxem e deixem o cérebro meio assim na prateleira descansando e só sendo massageado e aerado como um pão que fermenta para crescer.

Ravello - Costa Amalfitana - Out/1991 - Foto: Renato Spadafora



Capri - Out/1991
Foto: Renato Spadafora
Pois bem, o filme conta a estória de uma escritora americana, que um dia ganha de um casal de amigas gays uma viagem 'alone', 'by herself' com um grupo gay pela Toscana. No mínimo divertido! Isto pra mim já é o máximo do 'lusho'! E, além disso, a certeza de que ela não seria abordada. E no início da viagem a moça já se mete numa encrenca das bravas, desce do ônibus 'alegre' e de alegre compra uma casa na Toscana. Daquelas com futuro, mas caindo aos pedaços. E tem que negociar com uma senhora italiana. Só eu sei o que é isto. Não é fácil, não, gente. Requer habilidades negociais e extrassensoriais extraordinárias e um olhar clínico para encontrar o calcanhar de Aquiles do sujeito a ser engambelado. Isto se você não for engambelado antes! As vezes me pergunto se no meu caso engambelei ou fui engambelada. Engambelei, é claro, pois tenho sangue de cigana  brasiliana.

E a pobre moça americana se mete na reforma da casa. E vocês podem imaginar toda a sorte de problemas, desafios, surpresas e revezes que ela vai enfrentando pelo caminho. E vai se tornando uma pessoa melhor ao longo do tempo, mudando seus hábitos e sua vida. Eu fico imaginando a casa que eu fui ver na semana passada para o Café. Aff! Show! De horror... Reforma completa. Tipo demolir tudo e fazer uma revamp total. E ainda tem que negociar a reforma com a Prefeitura. Será que eu vou ficar mais bonita e inteligente depois que eu alugar esta casinha? O lado 'A' ainda está conversando com o lado 'B' e procurando outra opção, por óbvio.


Amalfi - Out/1991 Foto: Renato Spadafora

Mas, voltando aqui pro filme, eu não perdoei a protagonista quando ela decidiu ir até Roma. E em Roma, ela topou com um italiano lindíssimo.  Cabelos pretos, pele levemente morena, olhos claros... Se meteu numa outra enrascada danada, pois estes caras são terrivelmente charmosos. E ela deixou o cara escapar! Imperdoável. Lástima. Eu fiquei frustadíssima. Até porque, antes de perder esta chance que a vida trouxe na bandeja de ouro pra ela, o 'ragazzo' a levou pra passear em Positano. Aaahhh, quase morri nesta parte do filme. De desgosto... Mas, pelo menos ela fez isto para ajudar uma amiga, o que eu acho super válido. Mas se ela fosse brasileira... Ah! Certeza que ia dar uma de globetrotter e conseguiria ajudar a amiga e fisgar o italiano ao mesmo tempo. Só nós no mundo, as brasileiras, temos este poder fractal de engambelação.


Positano!!!!! Ai, que maravilha! Out, 1991 Foto: Renato Spadafora

Daí, o drink de hoje é feito com a bebida preparada na Costa Amalfinatana, em Capri e Positano. Pode ser feito também na Sicilia. O Limoncello, que é uma espécie de grappa ou licor de limão e deve ser servido bem gelado. Tipo uma vodka. Amo muito esta bebida digestiva. Então, resolvi fazer para vocês hoje com a garrafa que 'il mio ragazzo' trouxe 'di Italia' na mala (!) um Zesty de Limão no Prosecco  que é uma estupidez de delicioso.

Zesty de Limão Siciliano no Limoncello e Prosecco 



Ingredientes:

3 bolas de sorbet de limão cremoso

2 colheres de sopa de Limoncello
180 ml de prosecco brut
raspas de limão siciliano


Modo de fazer:

Bata as bolas de sorvete até obter uma massa cremosa. Use duas taças flute. Coloque no fundo das taças a mesma quantidade do sobert. Acrescente em cada uma, uma colher de sopa de Limoncello. Após preencha as taças com o prosecco. Cubra com as raspas de limão siciliano.




Salute!!!

E depois disto tudo que eu disse aqui e 
deste drink 'meraviglioso',
vou pendurar minha bike e dizer....



A domani!

Baci Mille!!!




quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A irmã de Sherazade: Camarões à Provençal

                                
Ervas de Provence formando um coração
Foto: Leticia Amaral
Você acredita em amor a primeira vista? Se sim, vai gostar desta história que eu vou contar. Se não, disque 2, sente em algum lugar macio e me deixe te convencer de que a minha ficção pode se tornar realidade. Se eu for boa nisso, e achar que mereço sua clicada, marque com um "x" em um dos quadradinhos abaixo do espaço reservado aos comentários desta página.


Em primeiro lugar, quero dizer que qualquer semelhança é mera coincidência. Esta história, ou melhor, estória, com 'E' maiúsculo, que eu vou contar aqui hoje poderia até ser baseada em fatos reais, porém eu vou negar até a morte que esteja falando de alguém que conheço. Os fatos narrados aqui são todos da minha imaginação e autoria. É,  eu descobri que gosto de contar e escrever estória... A Madona também! E, como eu disse acima, é muito comum que isto tudo vire realidade. Reze para que aconteça com você algum dia, pois a sensação de um amor a primeira vista é algo indescritível, devastador, eletrizante, energizante, extasiante, ante, ante, ante................................................................imortalizante!


Campo na Provence - O que este campo está fazendo aqui? Continue lendo pra saber. 


Vamos lá. Era uma vez uma linda princesa árabe, não a Sherazade, sabe? Sabia que Sherazade tinha uma irmã loira? Sabia que aquele povo pode ser clarinho, clarinho, e ter olhos claros também? Não é albino, não. É variação de raça. Pois, a princesa tinha olhos cor de mar quando chega na beira da praia de areia amarela. Bem, deixa eu continuar aqui, já estou falando muito. No palácio do Sultão, ela foi criada com banquetes monumentais. Uma ama-chef cozinhava quibes, coalhadas, mijadra, tabule, babaganuche, fatuche, tanto uche que a menina ficou muito exigente com o paladar. Além disso, ela sempre tinha a possibilidade de ir a um outro sultanato comer uns petiscos trazidos do Oriente longínquo, ou de qualquer outro canto do planeta que a sua tia novidadeira inventasse e tentasse trazer para a divisa do sultanato.



               E assim ela cresceu e foi prometida a um príncipe. O tal era nômade e levou a princesa pra longe do mar. Logo seus olhos pararam de brilhar. Longe do mar perderam a cor. E na casa do príncipe a moça ficou infeliz com a comida. Ele era um cara assim muito legal, gentil, boa pinta, bom príncipe, mas não deu 'tchan, tchan, tcharã' entre os dois. Fazer o quê, gente? Isso acontece, todo dia. Você que discou o 2 sabe disso, né? Não fuja, fingindo que não é com você, está bem? Estou sabendo que você tem meia dúzia de amigos com quem isto já aconteceu, igualzinho estou descrevendo aqui. E eu devo ter uns quinhentos.




Margot Fonteyn em Ondine - 1958
Royal Academy of Dance
              Voltando para a estória, um dia a princesa foi chamada pelo Xá para inspecionar um mar, para olhar se a cor estava boa. Seus olhos são bons pra isso... Detectam poluição de longe. Chegando lá, encontrou um pirata espanhol. O pirata coitadinho, estava perdido com uma galé cheia de marujos, solitário e com muito trabalho a fazer. Mas ele não se deixou endurecer pelas intempéries, não, e como seu coração estava aberto foi olhar para a moça e se encantar automaticamente. Aí, o tal do amor a primeira vista de que falei, bateu! Igual a um raio na cabeça. - Que clichê, gente! - No que eram içados para dentro da galé, ele se apaixonou por aquela figura que se parecia até com uma Ondine - mito grego do mar, criatura que enfeitiça os homens. Daí, ela que também foi fisgada por toda aquela energia que emanava dele e da sua gente, relutou  por mil e uma noites aos banquetes oferecidos pelo pirata e os tripulantes da galé. Tentou dar uma de Sherazade, mas não colou.





Até que um dia resolveu, criou forças, não comunicou ninguém, e zarpou com a galé numa tarde fresca de primavera. Sumiu. E assim viveram felizes por muitos e muitos anos, cozinhando e vivendo perto do mar. Depois de algum tempo, de passagem por um porto, comunicaram ao sultanato, pediram benção, promovendo uma dança dos sete véus à beira mar. E o amor a primeira vista continua firme como a terra, apesar de eles viverem de porto em porto, sempre no mar, ou no ar!




Eu em Aix-en-Provence
Fiquei apaixonada por esta ruela estreita!
                 Esta estória abriu meu apetite e me fez lembrar o dia em que me contaram, os apaixonados, que tinham comprado um balde de camarões no mar de um pescador a deriva. Os camarões pulando ainda dentro do bote.  E tudo isso que eu contei pra vocês aqui me deixou com saudades de uma cidade na França pela qual passei - Aix-en-Provence. Quando cheguei lá foi amor a primeira vista. Pela cidade. É possível se apaixonar por cidades também! Mas esta é uma outra história que eu vou contar num post exclusivo. Estou guardando as melhores fotos que tirei do baú. Mas para não deixa vocês na mão, o importante é que vou executar os camarões à moda que aprendi neste lugar, que não é de praia, mas está perto de várias de onde vêm os camarões para serem feitos ao modo delicioso com ervas do campo, da Provence.


Camarões à Provençal




Ingredientes:

10 camarões VG (very grande!)
ervas de Provence a gosto
4 dentes de alho picados em cubinhos (no mínimo!)
azeite de oliva
Sal a gosto

Modo de Fazer:

Limpe bem os camarões sem retirar a casca. Retire as cabeças. Com uma tesoura corte a carapaça superior em sentido longitudinal da cabeça para a cauda e retire as tripas. Lave e reserve. Numa frigideira de fundo grosso, aqueça o azeite, adicione o alho e os camarões. Salpique as ervas de Provence e o sal a gosto. Uma colher de chá é o mínimo! Deixe ficar cor de rosa do lado de baixo e então vire os camarões. E deixe acontecer o mesmo com o outro lado. Regue com mais azeite antes de servir. Sirva na frigideira mesmo, acompanhado de um cuscuz marroquino (post de 25.09.2012). 


E vamos pedalar pela Provence!



Ainda que seja em ficção e
você não tenha a menor idéia do motivo, 
só porque eu estou saudosa.


BEIJOS!!!


P.S.: Sirva um bom vinho rosé, bem gelado, para acompanhar estas maravilhas!




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Se a vida viesse com livro de receitas: Salada de Frango no molho de Iogurte e Gergelim









Se a vida viesse com livro de receitas..








Seria... La vie en Rose

Fácil, né?




Mas, consequentemente... chata!

Minha cachorrinha Mel: Ninguém quer brincar comigo... ;((

















Eu cozinhando com os índios num
flutuante no meio do Rio Negro. Julho, 2012
Improviso total! Sem roupa apropriada.
Eu era mais tupiniquim que eles!
A cada dia, fico mais encantada com esta coisa do improviso. Porque imprevistos acontecem, mas o importante é reagir. E improviso nada mais é do que reagir de forma positiva, é claro, à vida. Improvisar é coletar suas receitas, no seu caderninho, ao longo da estrada. Umas receitas básicas vêm de família. Tem gente que neste quesito tem sorte de construir um vademecum. Outras já têm que aprender com suas próprias experiências. Mas, todas, todas, têm que aprender com suas próprias aventuras. Estas podem ser as mais duras, mas no fim, quando você entende a mensagem, quando a ficha finalmente cai, são de longe  as mais gostosas. Muitas tantas você coleta com amigos. Outras você aprende em cursos, ou copia dos famosos, das celebs, porque copiar e aprender com quem sabe e faz direito também faz parte.


Artista improvisando um recorte de silueta da minha filha em papel
Frente do Musée D'Orsay - Paris, França - 2011
As vezes você fica  morrendo de  vontade de dar receitas para as pessoas que ama e considera.  Mas, pare, pense,  será que não seria melhor fornecer só um caderninho para  o sujeito se virar? Eu penso que se pode, assim, colar uma meia dúzia de receitas, sugestivas. Deixo bem claro. Ou postá-las num blog. Quem quiser vai lá usa e abusa, come e se lambuza. Nada aqui tem caráter aconselhativo (existe esta palavra ou é mais um improviso?), a não ser que o sujeito seja seu filho, mesmo assim ainda em fase de formação da mais tenra personalidade. Tornei-me partidária do 'laissez faire, laissez passer, Le Monde va de lui-memê'. Desta forma, ele poderá exercitar também a  arte do improviso e ir aprendendo com ela a reagir aos ventos da vida, criando as próprias receitas.


Daí que outro dia de improviso me matriculei numa aula de saladas lá na Escola Wilma Kovesi de Cozinha. Fui conferir se o assunto era sério mesmo. Simplesmente a aula seria ministrada por ninguém mais, ninguém menos, que... Carole Crema - é La Vie en Douce (!), a maga dos chocolates e doceira de alma. Ela mesma. Seria verdade? 



Fazendo o dever de casa!
Foto: Bia Ramos Spadafora
Cheguei lá e tinha uma receita de panna cotta na lousa. Já pensei: é uma pegadinha da Palmirinha. Entrei na aula errada. Mas não é que a super mega chef deu um show! Sete saladas e mais uma provocação para que os alunos criassem mais 200 receitas próprias. Abram o armário da despensa numa segunda-feira e improvisem! - disse a chef. Não é o máximo ser provocado a criar sozinho um mundo de possibilidades? Isto é que é ensinar alguém a ser chef de sua própria vida. 


Quero uma assim!!!
Então, eu que não posso aqui pegar as receitas da Carole - que são o máximo mesmo - e colocar no meu blog como se fossem minhas, fiz o que a super 'maestra' mandou. Criei a minha receita com o jantar chocho que tinha encontrado na tarde de ontem quando cheguei em casa, cansada, faminta - chef de cozinha também tem fome! Era frango branquelo grelhado em cubinhos, berinjela grelhada e arroz branco para ser esquentado no micro ondas. Casa de ferreiro, espetinho de 'churrasquim mimi'.  'Cruz in credo', 'saravá', sai da minha cozinha que ela não te pertence! 

Segue aí a receita, reação à provocação de Carole. Confirmem. Executem. Estão autorizados a copiar esta receita. Ó, eu aqui me contradizendo! Vai, pega aí se quiser... Fica à vontade. Mas, depois comenta, que eu tô tão carente...


Salada de Frango no Molho de Iogurte 
e Gergelim (Uau!!!)

Ingredientes:

500 gramas de frango grelhado em cubinhos 
250 gramas de berinjela grelhada em rodelas
1 pé de alface frisé
1 pé de alface roxa



Molho:

1/4 xícara de chá de gergelim
1/2 xícara de chá de iogurte
1 colher de sopa de maionese light 
3 colheres de sopa de shoyu
1 colher de sopa de água
2 colheres de sopa de castanhas de caju picadas grosseiramente


Modo de fazer
Lave as folhas e deixe escorrer. Pique e acomode nas laterais de um prato raso grande. Para o molho, torre o gergelim numa frigideira antiaderente até ficar douradinho. Você vai escutar barulho de pipoca estourando. Neste ponto estará bem torradinho. Reserve o gergelim e deixe amornar. Misture o iogurte com o shoyu, depois a maionese. Acresente o gergelim e as castanhas. Adicione este molho no frango e deixe incorporar. Adicione as berinjelas, pobres coitadas, que agora terão gosto de alguma coisa. Verifique o ponto do sal e corrija se achar que deve. Sirva esta salada de frango no prato, no centro do alface. 

Olha que lindo, gente!



'Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!'


'E, vem vamos embora...'



 pedalar que hoje tá 
um  dia lindo de primavera!

Beijos!!!


XOXO

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Amigos são Irmãos que escolhemos: tiraditos do Peru!



Amigos são irmãos que escolhemos. Com esta frase de efeito, tenho que fazer um parêntesis aqui para dizer e reafirmar que isto não quer dizer que eu não curta meus irmãos. Deixa eu remendar meu arroubo. Sou louca pelos dois "zoiudinhos da mamãe", mesmo que eles não tenham nada a ver comigo. Vai, estou exagerando, até que meu irmão cozinha bem - bem melhor que eu! Mas, o branco do olho é diferente. Minha irmã, nadica a ver. Pasmem. Não fosse o registro de meu nascimento em extenso álbum preto e branco, que eu fiz questão de checar e agora guardo eu mesma, não teria superado a síndrome da filha achada na lixeira. 

Do fundo de minh'alma, sem medo de parecer mascarada, considero meus irmãos o máximo. Pessoas descoladas, simples, generosas e desprendidas. Espíritos que estão anos luz de desenvolvimento. E me trouxeram e continuam trazendo tesouros, meus sobrinhos queridos e afilhados - filhos que nascem na barriga dos outros. E os cunhados? Os meus não começam com XU...  Posso falar de boca cheia: são pessoas encantadoras, doces e batalhadoras, à altura dos consortes.


Claude Monet - Dejeuner sur L'Herbe
("The Picnic") - Right Fragment
1865-1866
Musée D'Orsay, Paris, França

Mas, a vida nos leva por caminhos pelos quais temos que escolher novos irmãos. Irmãos da terra e espirituais, pois esta caminhada não termina aqui - ainda bem! Amigos que, não importe o rumo que você toma na sua vida, dão um jeito de te encontrar numa quebrada. Por pior situação que o caminhante esteja passando. Mesmo que o sujeito não tenha poder, moedas no gibão ou uma mesa palaciana. Amigos que não têm vergonha de te convidar mesmo que o picnic deles seja num parquinho simples. Tipo banana descascada debaixo de uma árvore frondosa. Situação autêntica. Sem frescuras. Consequentemente, a vida fica mais leve. Sem contar que mais fácil de ser carregada, naquele momento em que estamos partilhando... compartilhando e comungando pedaços de luz e sabedoria de vida simples.

E assim que eu estava cozinhando uma encomenda daquelas, quando toca o telefone...







Parará.... Parará.... Parará...........................................

Minha amiga-irmã-comparsa convida para comer comida peruana daqui 30 minutos num lugar disputadíssimo de São Paulo. Vai cuidar da reserva! Ela tem uma lábia que só. Novo parêntesis pra dizer que comida peruana está na moda, galera. Considerada altíssima gastronomia. De Londres ao resto do mundo. Virulizou! Vai ver que é por isso que a Le Cordon Bleu abriu a sua escola no Peru e fica no vai-não-vai aqui no Brasil. Bem, é lógico, larguei tudo que estava fazendo e quase que largo o forno aceso também. Bacalhau demolhando, cebola picada, massa na geladeira, não entrei nem no prepreparo dos pratos para encontrar este casal de amigos mais do que queridos. E valeu a pena. Espetacular, como não poderia deixar de ser. Não posso nem contar como ficamos felizes.




E aí, foi uma festa de Babete, ou melhor, de Lelete. De primer, piqueos... este prato que é de tudo um pouco de comida peruana para experimentar, tipo um festival de chebiches e otras cositas más. Chebiches, nem preciso comentar, os cubinhos de peixe no molho de leite de tigre. Arroz de pato peruano - finje que não notamos que o pato era de São Roque. Anticuchos, que são espetinhos de carne de boi peruanos. E as causas - batatas, com molho de limão e abacate, acompanhadas de muitos causos e revelações apimentadas. Como é bom cometer um crime organizado como este. Eta bando!


E para homenagear meu casal de amigos cervejeiros e empreendedores de vida, minha receita de tiraditos. Que são lâminas de peixe marinadas à moda peruana. É claro, que eu não consigo o peixe branco aqui em Sampa de meia hora pra outra, que nem a minha irmã Sil. Então, executei minha receita com umas lâminas de salmão. 






Curtam a receita, mas não se esqueçam de dividir com algum amigo especial. Vale a pena ter amigos e dividir! O Café Vélo Vert adverte: Isto causa sensação de imortalidade!




TIRADITOS À PAMPLONA (é na Espanha, eu sei!)





Ingredientes


200 gramas de salmão limpo e sem pele
suco de um limão tahiti
1 1/2 colher de sopa de vinagre de vinho branco
1/2 cebola vermelha cortada julienne
2 colheres de sopa de coentro picadinho
1 colher de sopa de pimenta rosa
(ou a gosto)



Modo de fazer

Corte o salmão em lâminas bem fininhas como se fosse um carpaccio. Disponha as lâminas lado a lado em um prato raso - bem bonito que é pro seu amigo ver que o seu picnic é mais chic que o dele, tá? Disponha a cebola sobre o peixe. Regue o peixe com o suco de limão e o vinagre. Salpique o coentro e a pimenta rosa por cima. Reserve e deixe em marinada por pelo menos 30 minutos, mas não mais que 1 hora, antes de servir. O limão tem o poder de cocção do peixe. Então, não é bom bobear. Sirva com pão ou saladinha. Vale também acrescentar uma porção de guacamole. Mistureba boa!



Boa semana para vocês, amigos!


BEIJOS!!!

sábado, 24 de novembro de 2012

Feira de Flanders: Pão preto com Cerveja e Gengibre

Flores em Bruges - Bélgica
Fico eu aqui durante quase uma semana sem escrever. Falta de assunto? Falta de receita? Falta de tempo? Famoso NDA do Enem. Nenhuma das alternativas anteriores. Na verdade, receitas pululam de meus livros, meus cursos e minha mente. Inúmeras alternativas a serem produzidas e fotografadas. Assuntos? Nunca tive uma língua tão destravada na vida. Não sabia que eu tinha tanto assunto! 




Ultimamente, tenho conversado com as pessoas que caminham na rua, no metrô, com velhos, crianças, doentes, mães, com ascensoristas, trocadores, taxistas, garçons, atendentes, moças das lavagens de copos, pretos, brancos, com judeus e árabes, qualquer um. Tudo é motivo.  É uma verborréia mesmo. Incontinência assuntal. E quanto ao tempo, amigos, ah...como diria meu sábio pai, é só uma questão de prioridade. 

Na verdade, a ausência deste espaço pode ter a ver justamente com esta porteira-mental escancarada. Acho que no final tenho medo de escrever demais aqui e me tornar enfadonha. É que um blog, na minha opinião, requer brevidade. E eu estou cada vez mais desbocada e prolixa. Falta espaço para receita! E paras fotos também. É como se a vida fosse uma grande rota de mercadores, como uma feira livre imensa... Tanta banca pra passar, ver, experimentar, tanto cheiro, tanta coisa para falar, contar e trazer no retorno de sua rota, que você acaba extasiado com todas as alternativas. Quer falar de tudo, e no fim, de nada. Quer por os pés pra cima e tentar refletir sobre tudo que coletou nesta grande feira que é a vida.

Telhado de uma casa em Bruges - Foto: Renato Spadafora

É, eu sempre fui uma apaixonada por feiras. Menininha acompanhava minha mãe, segurando o saquinho de limões.  Depois nos bancos da escola, apaixonei-me por uma tal Feira de Flanders. E eu não cansei de estudar esta parte da história, o renascimento comercial. Paixão, coisa de louco mesmo. Sonhando acordada, pensava como um mercador poderia sair lá de Veneza - minha cidade luz, minha segunda casa, onde eu quero morrer um dia, e ir viajando, no fim da Idade Média, por trilhas e caminhos sem nenhuma infraestrutura até atingir Flanders e Bruges - que é um encanto de cidade também e tem comidas maravilhosas! Ah, preciso contar mais de Bruges aqui. - E quantas experiências e especiarias estes caras carregavam e transportavam. E, no fundo, no fundo, a história destes mercadores é uma história de alma, pois carregavam mesmo os temperos da vida. 

Foi assim que eu fui parar na faculdade de Economia e depois na de Direito. Me encantei com a história da bancarrota. Uma vez me contaram que a falência - instituto consolidado do direito comercial - derivou do fato de o sujeito ter sua banca toda quebrada e apedrejada, quando não honrava seus compromissos com seus credores. A palavra bancarrota deriva do italiano "banca rotta", banca (=comércio) quebrada. Lindo, né? Já era surtada assim desde de cedo, viu! Tive que conferir na faculdade. Sobre Economia, então, nem se fala, o câmbio, a primeira circulação de moedas, os percursores das paridades monetárias, o primeiro germe da globalização... Ah, amo muito tudo isso!


Do campanário da Basílica de San Marco Veneza
Foto: Renato Spadafora maio, 1997
Mas, no fundo do meu coração... lá na minha alma, eu não tive oportunidade de perceber que eu gostava mesmo era dos temperos. De carregar as histórias e de cozinhar com eles. E de vender minhas comidas e minhas idéias. Tenho que confessar, sou uma alma mercadora. Tudo bem. Façamos, então, com diz o meu dileto cronista, Fernando Sabino, diante da interrupção, um caminho novo. "Do sonho, uma ponte. Da procura, um encontro."

E assim, passo para a receita que conta com autênticos ingredientes das feiras, trigo, cerveja, o sal e as especiarias. Voilá!

Pão preto com Cerveja e Gengibre à moda de Flanders




Ingredientes:

275 gramas de farinha de trigo
175 gramas de farinha de trigo integral
2 colheres de chá de gengibre em pó
1 1/2 colher de chá de sal
2 colheres de sopa de fermento em pó instantâneo
25 gramas de manteiga sem sal
3 colheres de melado
300 ml de cerveja escura forte em temperatura ambiente.

Modo de fazer: Misture os cinco primeiros ingredientes. Adicione o fermento, a manteiga e o melado. Depois faça uma cova no meio e vá despejando a cerveja aos poucos. Misture até obter uma massa homogênea. Sove a massa e deixe descansar enrolada num filme de PVC até dobrar de tamanho. Sove novamente. Abra a massa em duas assadeira e cubra com filme de PVC e deixe novamente dobrar de tamanho. Asse em forno preaquecido a 200˚C por 30 min ou até que os pães estejam dourados e com som de oco ao bater na casca superior.




Aproveitem o pão neste fim de semana lindo
que desabrocha!



Que tal ir a feira de bike hoje?



BEIJOS!!!



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vera Primavera: Strozzapreti Toscano

Mesa de Restaurante na Toscana
Está chovendo granizo aqui em casa em São Paulo. Hoje, em plena primavera. Meu sobrinho provoca uns politécnicos no Facebook para saber porque está saindo fumaça da piscina do prédio. Não tem resposta... Pudera. Estão todos abismados com o fenômeno da física deturpando a primavera. Sem palavras, sem respostas, nem dos universitários, corri, para conferir no meu livro de estudos - o que Einstein diria para seu cozinheiro? Tem alguma coisa a ver com gelo seco? Reviro meus alfarrábios. Nada. 


Lucca, Toscana - Foto: Renato Spadafora
No meio do meu baú de receitas e memórias, encontro uma receita que me traz lembranças de uma 'vera' primavera. Na Toscana. A primeira vez que você adentra aqueles campos numa primavera nunca mais se esquece. O sutiã tudo bem. Pode até esquecer. Mas, a primavera na Toscana, aahh... A minha, então, foi sensacional. Sem destino certo pela Itália, sem hora, sem carro, sem preocupações, sem reservas, tomamos um trem de Veneza para Firenze durante o dia. Trem tipo pé duro mesmo. Um certo calorzinho de primavera no recinto. Devo confessar, que falta Rexona, lá. Do lado de fora, céu azul-imenso-lindo!



Wine tour Chianti
Enfeitiçada pela paisagem e dopada pelo calor e o balanço do trem, por um instante, achei que estava tendo uma miragem. Pela janela, naquela imensidão, naqueles campos sem fim, o ar inundado de flocos brancos. Ínfimas partículas brancas flutuando. Neve na primavera? Não pode ser!  O que era aquilo? Como podia estar acontecendo aquilo. Seria uma inversão térmica? La ninã está nos sacaneando. Só pode. Perseguindo a gente até aqui? Miragem... Foram dez segundos para entender que estávamos no meio de uma tempestade de polén! De pólen. Non ha mai visto! Não me lembro se tiramos fotos. Não as encontrei. Acho que esquecemos em algum lugar nestas andanças e mudanças de casa. Mas, desejo que este esquecimento nunca derrube a imagem tatuada na memória.


Pisa, Toscana - Foto: Renato Spadafora
E para relembrar o momento, vai aí a receita do baú da Toscana. De Pisa! Nome sugestivo: strozzapreti. Mas não tem nada a ver com estrangular padres, não. Isto tudo é intriga. Recentemente, um chef italiano chegou a conclusão de que o nome deriva do grego, de straggalao (enrolar) e prepto (equivalente a escavar). Por que se fazem pequenas bolinhas enroladas como brigadeiros e, em alguns lugares, tem-se o costume de achatá-las com o dedo polegar. Mas eu não faço isto não! Deixo como uns brigadeiros de queijo e espinafre. @maniadebrigadeiro!

Strozzapreti Toscano

Foto: Letícia Amaral


Ingredientes:

200 gramas de espinafre fresco
400 gramas de ricota
250 gramas de farinha de trigo
2 ovos
110 gramas de queijo parmesão ralado

Modo de Fazer: Lave e cozinhe o espinafre em água e sal.  Escorra-o e pique em tirinhas finíssimas. Numa vasilha, misture o espinafre com os demais ingredientes até obter uma massa bem homogênea. Faça bolinhas como grandes brigadeiros. Ferva água com sal numa panela. E cozinhe as bolotas aos poucos, até que elas atinjam a superfície da água. Quando subirem espere mais 1 minuto para ter certeza que estão bem cozidas e as retire da água com a ajuda de uma escumadeira. Reserve e coloque em uma travessa as bolotas cozidas. Sirva com molho da sua preferência. No caso, eu fiz um molho rosé. Mas fica muito bom também acompanhado de manteiga derretida e sálvia. Hummm!




Ah! Quase me esqueci de dizer... Imperdoável lapso de memória... O vinho! Um chianti para acompanhar, é claro!

E a chuva se foi, misteriosamente,
assim como veio.

Então, vamos pedalar!

BEIJOS!!!