segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Comida de Bistrô: Pipèrade Basque




"De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
...Ficarei com o ovo....Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. ... De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. ... E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. ... Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir."(trechos extraídos do conto O Ovo e a Galinha, Clarisse Lispector)



E isto que eu acabei de fazer aqui, por favor, não tentem fazer em casa. O Café Vélo Vert adverte: picar literatura na cozinha faz mal a saúde... enlouquece e pega fogo! Peguei um dos contos mais lindos e profundos da Clarisse e piquei. Tirei pedaços. Pra comer junto com minhas receitas como se fosse o pão que vai acompanhar a receita de bistrô que dou logo abaixo...Isto por amor a um ovo! Serei perdoada algum dia? Já sei! Vou alegar insanidade. Ou que tal legítima defesa?


Praça das Palavras - Museu da Língua Portuguesa - SP

Uma amiga nossa que é escritora e que dedicou parte de seus estudos às obras da Clarisse Lispector deve estar se contorcendo do outro lado do blog. Fora os erros de português que a douta aqui de vez em outra deixa passar...Vai mandar uma ambulância e uma camisa de força pra mim em segundos. Pronto. Já escuto o barulho das sirenes na esquina. Ihu, ihuu, ihu... Mas, pedi permissão em meus devaneios à Clarisse para tanto... E ela já tinha dito que escrevia sem ponto, nem vírgula, do jeito que quisesse. Que não era afeita às regras. Eu também não sou. Não ouso chegar aos seus pés, a sua sombra, mas acho que ela concordaria com meus arroubos. Afinal, se "viver faz rir," isto é viver ... Deixa eu rir...



E, eu li o conto inteiro mais uma vez esta manhã. Cheio de metáforas. Você pode interpretá-las como quiser. Ou simplesmente pode se identificar com parte ou partes, como eu fiz e ousei pescá-las, pinçá-las. Quando tiver um tempo e o fundo da alma bem vazia, assim quase no último "pauzinho vermelho" do seu iPhone, tente ler. Depois leia num outro dia e em quantos outros quiser. Cada dia vai te trazer outras emoções, outras idéias e interpretações... Nem Clarisse soube explicar porque. Só amou o ovo.



Bem, e a história do ovo é pra começar uma série de receitas de bistrô. Porque todo bistrô que se preza começa com receita de ovo. Mas vou começar com receitas bem fáceis. Do tipo, o chef é você. É! Yes, you can! Pega a frigideira, lá! Não finge que não viu o ovo, se não volta pro Mobral. Vovô viu o ovo. Só Ivo teve a felicidade de ver a uva! E este treco de ovo tem a ver com bistrô também. Tem algum bistrô que você conheça que não seja um ovo? Assim, apertadinnnn... quase claustrofóbico! E não diga, ah, o meu não é assim, ou fui num nos Jardins... pois, então, não é bistrô... é brasserie!



Ville D'Espelette - França
Voltando pra receita do Pipèrade. Nome que vem do pimentão. É uma receita que é muito comum nos bistrôs franceses, originária do País Basco. Sabe? Aquela região ao norte da Espanha e sudoeste da França, cortada pelos Pirineus. De onde em geral ouvimos falar dos atentados... ETA, mas, é muito mais do que isto! Manja, Biarritz? Sare? Do lado da França. Bilbao, Donóstia e San Sebastián, do lado da Espanha? Pois, é.



Vou passar pra receita antes que eu comece a achar que não estou vendo o ovo de novo. 

Pipèrade Basque du Café Vélo Vert



Ingredientes:

1 colher de sopa de azeite
1 tira de pimentão vermelho em cubos
1 tomate em cubos
1 cebolinha verde picada
1 colher de sopa de leite
2 ovos batidos
sal
pimenta do reino a gosto

Modo de fazer: Aqueça o azeite numa frigideira. Frite o pimentão por um minuto. Acrescente o tomate a e cebolinha. Frite mais um minuto. Misture o leite aos ovos batidos, acrescente o sal e a pimenta a gosto. Leve esta mistura a frigideira. Mexa com uma colher por dois minutos. Gente, receita de 4 minutos! Fala sério?! Vai continuar pedindo pizza? Sirva dentro de uma metade de pão sírio, regular ou integral, com alface romana ou frisé picada. 

*Dica: Este pode ser um prato para um brunch, para um jantar leve acompanhado por salada, ou para aquele almoço que você já sabe que vai ser na mesa do escritório. Pra sua marmita, Mari!

E vamos lá que hoje eu preciso 
pedalar minha ergométrica!



E esta estória da ergométrica eu 
vou contar pra vocês outro dia! Fantástica!

Beijos!!!




3 comentários:

  1. Adorei esta receita !!! É mooooooooito facil...vou preparar e dizer de boca cheia: eu que fiz!

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  2. Claro que sou eu,né! Marcia....

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